terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Pirenéus em autocaravana 2019


























Aproveitando o período de férias escolares da Páscoa, decidimos fazer mais uma viagem de autocaravana. Assim, ao longo de 12 dias e mais de 3500 km, explorámos alguns dos locais mais emblemáticos dos Pirenéus, bem como outras paragens bem interessantes durante o percurso. As montanhas desta cordilheira, que se estendem ao longo de 430 km, são a fronteira natural entre Espanha e França e um destino obrigatório para todos os amantes de geologia, actividades ao ar livre e cenários naturais de cortar a respiração!! 


No mapa acima é possível observar, em traços gerais, o percurso efectuado. É importante ressalvar que não foi possível reproduzir, na íntegra, todas as estradas e todos os desvios efectuados, daí a diferença entre os quilómetros previstos e os efectivamente percorridos (mais de 3500 km no total). Também é importante referir que algumas estradas, nomeadamente no coração dos Pirenéus, são desafiantes, sobretudo para condutores pouco experientes. O sobe e desce é constante, abundam estradas de via única, e muitos, mesmo muitos quilómetros em estradas de montanha verdadeiramente espectaculares!!  Um verdadeiro carrossel! No entanto, a paisagem é avassaladora!!

Nota: além dos Pirenéus, a nossa viagem incluiu um "desvio" à Catalunha e a Andorra, e essa circunstância fez aumentar consideravelmente a distância total percorrida. É possível visitar alguns dos locais mais importantes dos Pirenéus, como Gavarnie (França) e Torla (Espanha) e poupar algumas centenas de quilómetros relativamente ao traçado exposto no mapa.


Dia 1. Vila Verde - Puebla de Sanabria




O primeiro dia serviu, essencialmente, para nos adiantarmos no percurso. Uma vez que iniciamos a viagem já perto do final do dia, decidimos pernoitar em Puebla de Sanabria, pela localização estratégica em função da nossa rota. Foram, portanto, pouco mais de 200 km de estrada, mas que nos colocaram em boa posição para enfrentar o dia seguinte, o mais longo de toda a viagem. Puebla de Sanabria, na província de Zamora, é um povoado com cerca de 1500 habitantes, integrado na rede das aldeias mais bonitas de Espanha. Possui um centro histórico medieval muito bem preservado e uma envolvente natural de grande beleza, que visitamos num passado recente. Estacionamos junto ao rio, num local reservado a autocaravanas, com vista para o centro histórico, e aqui pernoitamos, em total tranquilidade.

Dia 2. Puebla de Sanabria - Agüero (Huesca)



O nascer do dia trouxe a queda de alguma neve e, naturalmente, todos fizemos questão de sentir o fenómeno.




Depois do pequeno almoço, e de alguma brincadeira, regressámos à estrada, conscientes de que este seria o dia mais longo de toda esta aventura, com mais de 600 km para percorrer. Tentamos que a viagem fosse o menos cansativa possível, e por isso incluímos bastantes paragens. Afinal, uma das grandes vantagem de andar com a casa às costas é mesmo essa, avançar com calma e sem preocupações. Uma dessas paragens ocorreu em  Palência, onde almoçamos numa famosa cadeia de fast-food norte americana. É já um hábito enraizado! 

Depois de Palência seguiram-se as cidades de Burgos, Vitória, Pamplona e, finalmente, a localidade de Agüero, na província de Huesca.


Pernoitamos no camping municipal (Peña Sola), com vista para os famosos e belíssimos Mallos de Agüero. Aqui a tranquilidade é palavra de ordem.


























Dia 3. Agüero - Santa Pau (Catalunha)




















Logo pela manhã partimos para uma caminhada por entre o casario de Agüero,  um pequeno município com pouco mais de 160 habitantes, situado no sopé dos Mallos, seguindo um trilho que nos levaria, também, a contornar essas impressionantes formações rochosas, sem dúvida o maior cartão de visita de Agüero. Os monólitos são especialmente famosos entre os praticantes de escalada, que aqui encontram paredes verticais ideais para a prática desta modalidade. 







O contorno dos Mallos foi conseguido ao cabo de um par de horas. O trilho tem um grau de dificuldade baixo e proporciona vistas deslumbrantes. É, por isso, altamente recomendável. 

Ainda mais impressionantes que os Mallos de Agüero são os Mallos de Riglos, estes sim o verdadeiro ex-líbris da região. Estes conglomerados rochosos devem a sua origem aos materiais arrastados aquando do degelo glaciar dos Pirenéus, entretanto "cimentados" pelo calcário. A erosão acabou por remover os materiais mais porosos e menos resistentes, contribuindo decisivamente para o aspecto que estas rochas apresentam. Os Mallos distam poucos quilómetros entre sí e são semelhantes no aspecto, embora a dimensão dos primeiros não seja comparável à dos segundos. Os Mallos de Riglos são colossais e, sem dúvida, uma das formações geológicas mais espectaculares de Espanha!



A tarde avançava rapidamente. Embora não previsto inicialmente, optamos por fazer um desvio até ao Castelo de Loarre, uma importante fortificação datada do século XI. Esta fortaleza, construída sobre um promontório de calcário, que lhe conferia excepcional robustez defensiva, foi mandada construir por  Sancho III de Navarra, e é a melhor conservada da Europa de estilo românico. Dada a escassez de tempo, optamos por visitar apenas a zona exterior do Castelo. Valeu a pena! 


Continuamos a nossa viagem, com destino à Catalunha, concretamente a Santa Pau. À medida que avançávamos a paisagem tornava-se mais verde e o trânsito intensificava-se. Alcançamos o Parque Natural da Zona Vulcânica de La Garrotxa ao cair da noite e pernoitamos no Camping Lava, um parque de campismo situado no coração de La Garrotxa. Este camping deixou-nos um misto de sensações: localização perfeita e envolvente pitoresca, embora demasiado caro e arborizado, o que dificulta, bastante, a circulação e estacionamento de uma autocaravana com 7,23 metros de cumprimento e 3,1 metros de altura. 

Havia que descansar e preparar o dia seguinte, que seria muito especial. 

Dia 4. Santa Pau - Andorra




Um dos pontos mais altos da nossa viagem ocorreu na região de La Garrotxa. O Parque Natural da Zona Vulcânica de La Garrotxa, considerada uma das paisagens vulcânicas melhor preservadas da Europa, compreende uma área muito vasta, englobando cerca de 26 reservas naturais, 20 fluxos solidificados de lava e cerca de 40 vulcões inactivos. No coração do parque natural encontramos a Vol de Coloms, uma empresa familiar especializada em voos de balão sobre esta paisagem vulcânica verdadeiramente única. Viajar num balão de ar quente é algo que preenchia o nosso imaginário desde a infância!

Por volta das 6h da manhã, conforme previamente combinado, fomos informados de que estariam reunidas as condições climatéricas ideais para o voo. Saltamos da cama, em alvoroço, e às 7h apresentamo-nos nas instalações da Vol de Coloms. Fomos amavelmente conduzidos até ao interior do moderno edifício e convidados a degustar de um belo pequeno almoço, que incluiu alguns doces locais. Através de umas generosas janelas de vidro era possível observar os balões, estendidos num extenso relvado, o staff, sempre atento às condições de vento, e a cratera do Croscat, o mais alto e jovem vulcão da península ibérica (última erupção há 14 mil anos).



Por volta das 8h é dado o sinal de partida. Estendidos no chão, os enormes balões de ar quente começam, lentamente, a ganhar forma, com a ajuda de potentes ventiladores. Aos clientes é dada a liberdade de circular, de forma responsável, por entre os balões e, até, ajudar nos preparativos.






Assim que o balão se ergue na vertical os passageiros são chamados, com relativa urgência, para tomarem os seus lugares no interior do cesto. Sobre as nossas cabeças um enorme queimador de gás vai "injectando" ar quente no interior do balão e, lentamente, somos lançados aos céus! A sensação é indescritível! A suavidade, o silêncio, a magia... está tudo lá! Não se sente turbulência ou qualquer leve brisa do vento sequer! Viajamos à velocidade do vento e somos parte dele! Lá de cima temos uma perspectiva muito diferente do que nos rodeia. Os sons de toda e qualquer actividade humana são percepcionados com uma clareza inacreditável. A paisagem é maravilhosa, com vistas privilegiadas sobre as crateras, escorrências de lava e imensas florestas.




Vista privilegiada para o vulcão Croscat e toda a sua envolvência.


Ao longe é possível observar a cordilheira dos Pirenéus e algumas das suas montanhas mais altas pintadas de branco, bem como o mar mediterrâneo. A experiência é épica!! Ao longo do voo, que durou cerca de 2 horas, sobrevoamos algumas localidades históricas, saboreámos a tradicional Coca e brindamos com Cava, respectivamente um doce e um espumante típicos da Catalunha. Para os mais novos houve sumo de fruta.






































A aterragem aconteceu a mais de 40 km do local de partida, numa propriedade agrícola. Como se trata de um voo livre não há qualquer certeza sobre o local de poiso, pelo que é necessária a presença de uma equipa de apoio em terra, quer para ajudar na recolha do equipamento quer para o transporte dos passageiros. A sincronia é perfeita.











































Depois de recolhido o equipamento, seguiu-se uma viagem de quase uma hora até às instalações da Vol de Coloms. À nossa espera tínhamos um almoço com produtos tradicionais da Catalunha. Pão com tomate, uma selecção vasta de enchidos (Fuet), butifarra com judías brancas, creme catalão e bebidas locais. Uma delícia!!! A confraternização do staff e dos participantes foi muito agradável e fez-nos sentir em casa. Se há actividade que justifica, em pleno, o valor investido, esta é uma delas. Um perfeito exemplo de excelência no serviço, atendimento e atenção ao cliente!! Os meus parabéns à Vol de Coloms!!! 

Depois do repasto decidimos realizar uma breve caminhada pela base do Croscat. Esta cratera tem a particularidade de ter sido utilizada para exploração de minério, no passado, razão que justifica que  o interior da cratera se encontre exposto numa das vertentes do vulcão. Ainda houve tempo, porque nas férias há sempre tempo, para fazer a vontade aos rapazes...



Voltamos à estrada, rumo a Castellfollit de la Roca, uma aldeia situada no topo de um rochedo basáltico peculiar, com cerca de 50 metros de altura e um quilómetro de cumprimento, formado pela sobreposição de duas camadas de lava das erupções do vulcão Olot (há 217 mil anos) e de Sant Juan les Fonts (há 192 mil anos).



Seguimos para a derradeira etapa. Pela frente tivemos cerca de 140 km de estrada de montanha, por entre paisagens magníficas, que nos consumiram cerca de 3 horas de condução. As alternativas são escassas e igualmente demoradas. A entrada em Andorra foi surreal, com muita polícia e um controlo apertado na fronteira, embora tenhamos passado sem qualquer problema. Em apenas um par de quilómetros avistamos mais centros comerciais e postos de combustível que nos últimos 400 km!! O desenvolvimento era notório. Estacionamos a autocaravana no parque de estacionamento exterior do centro comercial River, que tem área de serviço gratuita e bastantes lugares de estacionamento, também gratuitos. O parque localiza-se nas traseiras do centro comercial, junto a um rio e uns metros abaixo do nível da estrada principal, daí ser um local bastante tranquilo para pernoitar.




























Dia 5. Andorra - Castelnau-Durban



Após uma noite com alguma chuva, acordamos com frio mas, também, com muito sol. Logo pela manha decidimos subir em direcção ao lago glacial de Engolasters, situado a 1616 metros de altitude. Para trás ficava a capital, Andorra-a-Velha, uma cidade movimentada, como tantas outras, cheia de comércio e publicidade alusiva a desportos de inverno, "aprisionada" pela montanha. O cenário é incrível!


A subida até ao lago é íngreme e muito sinuosa, mas com piso de qualidade e vistas panorâmicas impressionantes sobre o imenso vale e a capital do principado. Perto do topo a neve e o gelo acumulados na estrada obrigaram a muita precaução na condução, mas a viagem foi tranquila. O lago, rodeado por árvores e trilhos pedestres, serve um duplo propósito: consumo humano e produção de energia eléctrica. Optamos por seguir o trilho de contorno do lago e aproveitamos para brincar com os miúdos na neve!




Descemos até à estrada principal e seguimos para norte, ao longo do vale, até Canillo, uma pequena localidade onde tem início um trecho de estrada impróprio para cardíacos, que nos levou até ao miradouro Roc Del Quer. Daí é possível obter uma das imagens mais espectaculares e marcantes de Andorra. Não adequado, de todo, a quem quem sofre de vertigens!!!







A última paragem em Andorra aconteceu em Paz de la Casa, na fronteira com França. Pelo caminho seguiram-se algumas dezenas de quilómetros por estrada de montanha, por entre algumas das mais prestigiadas estâncias de ski Andorrenhas e paisagens deslumbrantes. Um pequeno país de enorme beleza!! 
















































Depois do almoço, já muito tardio, e com o tanque de combustível atestado (o combustível em Andorra é mais barato cerca de 50 cêntimos por litro, comparativamente a França), arrancamos em direcção a Foix, debaixo de alguma chuva. À chegada a Foix, já com o sol a brilhar, fizemos uma breve paragem num hipermercado, para comprar alguns itens, nomeadamente algumas baguettes! Em França... sê Francês!! Continuamos mais alguns quilómetros, até à localidade de Castelnau-Durban, onde aparcamos, juntamente com outros autocaravanistas, numa zona tranquila, junto a um pequeno curso de água, com WC e dump station mesmo ao lado. Estávamos em pleno Parc Naturel Régional des Pyrénées Ariégeoises.


Dia 6. Castelnau-Durban - Lourdes























Após o pequeno almoço, e com a questão do abastecimento e despejos resolvida, regressamos à estrada, via Saint-Girons, Saint-Gaudens e Bagnères-de-Bigorre. Queríamos subir até ao Pic du Midi de Bigorre e conhecer o Observatório do Pic du Midi, o que implicaria uma viagem de teleférico até aos 2877 metros de altitude. A primeira etapa da subida, contudo, é feita de carro, até à estação de Ski de La Mongie. 

A manhã estava algo chuvosa, mas não desarmámos. Com a aproximação à alta montanha a paisagem ia-se revelando cada vez mais grandiosa. Cuidadosamente fomos progredindo, por entre curvas e mais curvas, até que a chuva começou a dar lugar à neve. Em poucos minutos, o nevão cobriu a estrada de branco e as primeiras perdas de tracção foram começando a surgir. Atendendo ao tamanho da autocaravana e às fracas condições de visibilidade, que impossibilitavam uma simples inversão de marcha, não restou outra alternativa que continuar a subir, muito lentamente, e "rezar" por um alargamento da via ou um qualquer local onde pudéssemos inverter o sentido. Acabamos por conseguir dar a volta, um par de quilómetros acima, e abandonamos aquele cenário. Foi um alívio para todos.

Derrotados, mas não vencidos, decidimos fazer uma pausa, na base da montanha, na comuna de Artigues. Não foi preciso esperar muito tempo para que o céu cinzento e carregado desse lugar a um belíssimo céu azul. Depois de um bom repasto, voltamos a tentar a subida até La Mongie, a estação de Ski que é o ponto de partida do teleférico até ao Pic du Midi. Desta vez tudo foi diferente e a subida decorreu sem qualquer percalço, com vistas sobre a belíssima paisagem alpina.

À chegada, no entanto, tivemos uma enorme desilusão: o teleférico estava fechado para manutenção!! Consultamos a net e a informação veiculada na página oficial do teleférico era de que o mesmo estaria ouvert. Grande falta de rigor e um grande murro no estômago!!

Passamos, directamente, para o plano B. Com toneladas de neve à disposição na estância, a diversão foi imensa. Miúdos e graúdos brincaram até à exaustão!


Os fortes nevões que caem sobre esta região trazem alguns constrangimentos à circulação rodoviária, principalmente nesta altura do ano. Foi sem surpresa, portanto, que verificamos que a passagem de montanha por onde queríamos seguir viagem se encontrava soterrada pela neve, o que nos obrigou a regressar a Bagnères-de-Bigorre. 

A chegada a Lourdes aconteceu ao final da tarde. Esta cidade, situada na base dos Pirenéus, é mundialmente famosa pelo Santuário da Nossa Senhora de Lourdes, e um importante local de peregrinação católica. Uma vez que a rota que havíamos traçado para esta viagem nos levaria para localidades bem próximas de Lourdes, quisemos aproveitar para conhecer este tão afamado local. Estacionamos bem perto do Santuário, a 10 min. a pé do mesmo, num local exclusivo para autocaravanas. Não existe qualquer serviço de apoio, mas é possível permanecer neste espaço, gratuitamente, durante 48 horas. Em volta do Santuário a azáfama é muita, com presença de muitos peregrinos, de todas as nacionalidades e de todas as idades. Visitamos apenas os locais mais emblemáticos do recinto exterior do Santuário, uma vez que o acesso ao interior do edifício se encontrava vedado (celebrações em curso), e reservámos a manhã seguinte para conhecer o Santuário propriamente dito.





À saída do recinto o nosso apurado olfacto conduziu-nos até à Casa Italia, e já não viemos de mãos vazias para "casa". Houve pizza para o jantar! 


Dia 7. Lourdes - Gavarnie/Argelès Gazost






















Durante a manhã fomos conhecer o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Independentemente da fé de cada um, trata-se de um monumento que vale bem a pena visitar. O edifício, cheio de belos pormenores arquitectónicos, é imponente. Lá dentro encontra-se recriada toda a história que envolveu a sua construção, bem como das aparições de Nossa Senhora a Bernardette Soubirous.



Após a visita ao santuário rumamos a sul, em direcção a Gavarnie, uma pequena aldeia de apenas 140 habitantes, situada no coração do Parque Nacional dos Pirenéus, a 1400 metros de altitude, junto à fronteira com Espanha. O nosso objectivo era conhecer o Cirque de Gavarnie, um circo glaciar situado na parte francesa do maciço montanhoso dos Pirenéus, que é visita obrigatória!

A estrada até Gavarnie é um espectáculo por si só. Sinuosa, apertada, por entre desfiladeiros intermináveis, vales, cursos de água e picos rochosos cobertos de neve...os ingredientes estão todos lá! À chegada o sossego era a nota dominante. Decidimos não parar e continuamos a subir até Gavarnie Gèdre, uma estância de ski que, nesta altura do ano, se encontra fechada ao público. A sensação de isolamento era surreal, bem como as perspectivas épicas sobre os Pirenéus.  Se já estávamos encantados com a paisagem, mais encantados ficamos quando identificamos, por entre a vegetação rasteira, alguns exemplares de um dos mais belos habitantes dos Pirenéus, a Marmota Alpina. Trata-se de um roedor de grande dimensão, da família dos esquilos, que vive no solo, em tocas, sendo capaz de hibernar até 7 meses por ano. Pudemos aproximar-nos, para a devida reportagem fotográfica, sem que se sentissem muito ameaçados, e ali permanecemos uns largos minutos, em êxtase, a contemplar os seus movimentos e ruídos.






Lá no topo ainda houve tempo para mais brincadeira com a neve e para um belo repasto com vistas de cortar a respiração.










































Regressamos a Gavarnie, estacionamos a autocaravana e iniciamos a caminhada pelo trilho que nos levaria até ao Cirque de Gavarnie. O percurso é de dificuldade baixa e encontra-se bem sinalizado. Com as crianças "a reboque" fizemos o percurso em 2,5h, e valeu cada segundo. A aproximação ao circo é deslumbrante e a sensação de estarmos envolvidos pela imensidão das montanhas aumenta com o acumular de metros percorridos. De frente para a enorme e belíssima parede circular, recheada de neve e escorrências de água congeladas, encontramos alguns dos pontos mais altos dos Pirenéus, nomeadamente o pico Marboré, e a maior cascata de França, a Cascata de Gavarnie, com os seus 422 m de altura. É uma caminhada obrigatória para quem visita estas paragens!







Terminamos o trilho já depois das 18h, e o dia começava a escurecer. O regresso foi feito pelo mesma estrada (não há outra...) até à localidade de Argelès-Gazost, um ponto estratégico para explorar esta região.








Pernoitamos numa área de serviço reservada a autocaravanas, gratuita, gentilmente cedida pelo... Carrefour!! Uma realidade bem diferente da portuguesa, sem dúvida!


Dia 8. Argelès Gazost - Torla



























Após o pequeno-almoço, e resolvida a questão dos despejos, efectuamos uma curta paragem numa boulangerie para comprar croissants, tarte de mirtilo e algum pão. A viagem incluiu nova passagem por Lourdes, o que fez aumentar o número de quilómetros até ao destino, Torla, já do lado espanhol, uma vez que as alternativas são sempre bastante demoradas e tortuosas, muitas vezes incluindo passagens de alta montanha.

O dia estava solarengo, com uma temperatura muito agradável. Ao longo da percurso fomos cruzando várias localidades, em ambiente tipicamente rural, e foi em Bruges-Capbis-Mifaget que encontramos um espaço ideal para os miúdos libertarem algumas energias e, simultaneamente, almoçarmos ao ar livre e, assim, desfrutarmos do sol maravilhoso. Ali permanecemos durante algumas horas, sem pressas, sem preocupações, apenas a divertirmo-nos.



A viagem até Espanha foi um absoluto deleite para os olhos. A aproximação à montanha é espectacular e a subida até à fronteira, via Col de Portalet, é incrível. Perto do topo a paisagem alpina revela-se, o cenário cobre-se de branco e, curva após curva, surgem novas perspectivas de deixar qualquer um rendido!!




A estrada leva-nos até Formigal, Panticosa, Biescas e, finalmente, Torla. O trajecto é sinuoso e bastante demorado, mas vale cada segundo!
































Torla é um pequeno município da província de Huesca, com pouco mais de 300 habitantes. É, simultaneamente, uma das mais pitorescas localidades dos Pirenéus Aragoneses e a principal porta de entrada para quem visita o Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido, o nosso maior intento nestas paragens. Aproximava-se o final da tarde e a necessidade de rumar até ao parque de campismo Valle de Bujaruelo. O acesso a este camping é feito através de um "caminho" surreal, seguindo o curso do rio Ara, por entre as escarpas da montanha. O troço inicial é desafiante, para veículos com esta dimensão, e por essa razão decidimos telefonar para o parque apenas para confirmar se não teríamos mais surpresas ao longo do trajecto, de 3 km. À chegada ficamos a perceber a razão de este parque ter sido considerado, em 2017, um dos 3 parques de campismo com maior encanto em Espanha. A localização é excelente, no coração da montanha, em absoluta tranquilidade e comunhão com a natureza!




Nesta altura do ano o movimento turístico é relativamente calmo, e isso reflectiu-se na ocupação do parque no dia da nossa chegada, com apenas duas autocaravanas no interior do recinto. Ainda não tínhamos a nossa devidamente estacionada e já os nossos 3 filhos se tinham juntados a dois amigos madrilenos para uma "peladinha". O futebol é incrível a quebrar barreiras!


Dia 9. Torla - Jaca







Depois de uma noite retemperante, saímos do camping e continuamos por mais alguns quilómetros até ao coração do vale de Bujaruelo, onde encontrámos a belíssima ponte de San Nicolas e o refúgio de montanha com o mesmo nome. O vale, além de belíssimo, é bastante amplo, neste local em particular, o que contrasta fortemente com o acesso rodoviário difícil, tortuoso e apertado. O dia estava, uma vez mais, excelente, ideal para umas fotos memoráveis.





Após o almoço fizemos todo o percurso de volta e rumamos até Pradera de Ordesa, local onde têm início vários trilhos pedestres ao longo do Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido. Optamos pelo trilho das 3 cascatas, que nos ocupou a quase totalidade da tarde, mas que nos permitiu ter uma percepção da beleza incrível deste local. A paisagem é inspiradora!!






Finda a caminhada, regressamos a Torla, com o objectivo de visitar o famoso Casco Histórico. Trata-se de um pequeno amontoado de casas antigas, ruas estreitas e monumentos, com um encanto muito próprio, que é, sem dúvida, paragem obrigatória!! As montanhas, como plano de fundo, são a cereja no topo do bolo!  Aproveitamos para comprar alguns produtos regionais, para consumo próprio e para oferecer a alguns familiares, e ainda alguns itens num pequeno mercado (pão, água, bolachas, etc...).




De Torla partimos para Jaca, sem deixar, no entanto, de adicionar alguma emoção extra a um dia que já estava a ser magnífico. Fizemos, portanto, um desvio pela espectacular HU-631, uma estrada de montanha de via única, que nos levaria a um miradouro sobre um dos locais mais inacreditáveis de toda a viagem, o Cañon de Añisclo. Localizado na vertente sul do Monte Perdido, este canhão, formado pela acção erosiva da água sobre o calcário, estende-se ao longo de 10 km. As vistas são indescritíveis, impressionando, sobretudo, pela dimensão!! É de ficar com o queixo caído!!




Continuamos a nossa viagem pelas localidades de Escalona, Aínsa e Fiscal, até chegarmos a Jaca, já perto das 21h. Estacionamos a autocaravana, num parque reservado para o efeito, já completamente lotado, situado a 1 km do centro da cidade, e daí partimos, a pé, até ao McDonald´s. Estávamos em claro défice calórico, depois de tanta caminhada, e nada melhor que um hambúrguer para compensar o esforço!!


Dia 10. Jaca - León





Com cerca de 500 km para percorrer, adivinhava-se um dia longo e difícil. Viver neste jardim à beira mar plantado que é Portugal traz sempre este problema: para onde quer que nos desloquemos, por via rodoviária, há sempre muitas centenas de quilómetros a percorrer. Queríamos dormir em León, num local onde já havíamos pernoitado aquando da nossa viagem aos Picos da Europa, e assim fizemos. 

A viagem foi feita com relativa tranquilidade, com paragens regulares, para preservarmos o bom ambiente a bordo. Ao longo da viagem paramos em locais como a Vila Romana de Liédena e Foz do Lumbier, e Pamplona, onde almoçamos.








































Chegamos a León com o pôr-do-sol, ansiosos por relaxar depois de uma viagem tão longa. Estacionamos no parque de autocaravanas gratuito, em frente ao centro comercial León Plaza, que entretanto sofreu algumas melhorias no que diz respeito a instalações para abastecimento de água e despejos. Apesar da localização, quase no centro da cidade, é possível descansar aqui com bastante tranquilidade e usufruir de uma extensa área pedonal e de lazer.

Dia 11. León - V. N. Cerveira




Depois de uma manhã dedicada à estrada, reservamos a tarde para um banho relaxante nas Burgas de Outariz, na acolhedora cidade de Ourense. Como já havíamos feito, num passado recente, estacionamos a autocaravana junto da Passarela de Outariz, uma ponte pedonal que atravessa o rio Minho e nos permite aceder às termas. Após um banho demorado, e muito retemperante, utilizamos os transportes públicos para visitar o centro da cidade, de uma forma cómoda e muito barata. É uma cidade muito agradável, da qual gostamos particularmente.



Regressamos ao final da tarde a Outariz e partimos em direcção a Vila Nova de Cerveira. Pernoitamos junto ao Centro Coordenador de Transportes de V.N. de Cerveira, juntamente com umas duas dezenas de outros autocaravanistas. 


Dia 12. Regresso a casa

A história deste dia é bastante curta. Acordamos bem cedo, tratamos dos despejos, arrumamos a maior parte das "tralhas" e seguimos em direcção a casa. 

Depois de esvaziar o interior de todos os armários, e de uma breve limpeza do interior da autocaravana (obrigatório entregar o veículo razoavelmente limpo), seguiu-se o último troço da viagem, até a Matosinhos, onde entregamos a "nossa" casa com rodas. 

E assim chegou a fim mais uma aventura fantástica, por caminhos nunca antes trilhados, sem qualquer problema digno de registo. Todos gostaram da viagem, ninguém adoeceu, comeu-se bem, dormiu-se ainda melhor. Chegamos com a alma renovada e carregados de boas memórias. Venha a próxima!!! 

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